09/07/2009

Fuge, fuge Lurdeta


Voando vai para a rua
Sócrates na estrada preta.
Vai na brasa, de lambretta

Leva a Milú, a pirata
Vermelha de irritação
O povo manda-a embora
Ela! Que fez tanto p’la Educação!

Fuge, fuge, Lurdeta.
Vai na brasa, de lambretta.

Agarrada ao companheiro
Na volúpia da escapada
Pincha no banco traseiro
Em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
Mas medo não é com ela,
E só por amor e cautela
Abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Leva atrás dela o Pedreira
E também o Valter Lemos
Tudo foge à sua volta,
O poder, carros, e casas,
E com os bramidos que solta
Lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
Já nem percebe, a Lurdeta,
Se o que lhe chega aos ouvidos
São ecos de amor perdidos
Se os sons da motoreta.

Fuge, fuge, Lurdeta.
Vai na brasa, de lambretta.
E escusas de te por aos ais! ...
Que em Outubro levas mais! …

Adaptado de
António Gedeão (Rómulo de Carvalho, 1906-1997)
in Máquina de Fogo (1961)

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